Desde a minha adolescência procuro por artigos que falem sobre a emetofobia. Fobia pouco estudada, mas muito presente. Ela está nos grupos do Facebook, nas hashtags do Instagram, nos vídeos do YouTube e nos textos de blogs e sites de saúde.
Entretanto, quando percebemos que temos uma fobia pouco conhecida até mesmo pelos psicólogos e psiquiatras, a coisa complica. Até hoje nenhum profissional com quem me consultei sabia do que se tratava.
Alguns se esforçaram em aprender para melhor me atender. Outros buscaram por outros transtornos específicos para o que eu sinto, pois o medo de vomitar era “patético” demais para ser levado a sério.
Na família, por exemplo, isso nem sequer virou pauta. A palavra “frescura” ganhou cadeira cativa. E isso só mudou quando meu filho desenvolveu o mesmo problema aos 6 anos, mesmo quando eu me sentia curada dele.
Por essa e mil outras razões, escrevo este conteúdo para que você saiba o que é emetofobia, como diagnosticá-la e quais os melhores tratamentos. Não, eu não sou médica nem profissional da área, sou apenas uma mãe “emetofóbica” – nem sei se o termo existe, que tem um filho com a mesma condição.
Antes de tudo, o que é emetofobia?
A emetofobia é uma fobia que causa medo intenso de vomitar ou de ver outras pessoas vomitando. Essa é a explicação que você lerá em qualquer um dos sites que tratam do assunto. No entanto, por ter sido diagnosticada com o problema e lidar com ele há mais de vinte anos, prefiro descrever o transtorno como muito mais do que um simples medo.
É um pavor intenso e persistente que afeta a rotina de quem vive com ele. Isso não é apenas sobre evitar alimentos suspeitos ou pessoas passando mal. A ansiedade gerada pela emetofobia te coloca em um estado de alerta exagerado, no qual qualquer situação pode virar um gatilho para o pânico.
Há quem diga que o medo de vomitar deriva-se apenas do: “comer algo ruim ou se sentir cheio após as refeições”. Mas não, ele é irracional e pode acompanhar a pessoa com essa fobia 24 horas sem nenhuma causa ou razão específica.
Em outras palavras, é como se você vivesse num mundo onde o vômito está por toda a parte. Na criança que senta ao seu lado no dentista, no repórter que tosse ao vivo na TV, na grávida na fila do banco e entre tantas outras situações que você imagina que isso pode ocorrer.
Quem tem emetofobia sabe que não é ‘frescura’ ou algo fácil de ignorar – é um medo que, muitas vezes, parece maior do que nós mesmos. Essa é a definição de emetofobia para mim.
Como saber se tenho emetofobia?
O primeiro passo para saber se você tem emetofobia é avaliar os sintomas. Embora o autodiagnóstico não seja a melhor recomendação, falamos de um transtorno pouco conhecido e, por isso, pouco diagnosticado.
Se eu tivesse esperado um profissional dizer que tenho emetofobia estaria até hoje andando em círculos. Lembro-me de no começo acreditar que o meu problema era a síndrome do pânico.
Assim, o principal sintoma da emetofobia é o terror pelo vômito em todas as suas esferas. Mas pode ser complementado por:
- ansiedade extrema;
- aversão a odores;
- nervosismo e tremedeiras sem motivos aparentes;
- enjoos constantes.
Além disso, as pessoas com emetofobia evitam lugares fechados, viagens, transportes públicos e grandes eventos.
No entanto, isso não quer dizer que eu te aconselhe a não buscar ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. Sim, eu recomendo e muito que você faça isso. Esses especialistas não vão apenas te diagnosticar. O papel deles é ajudar a viver melhor, mesmo após a contestação da fobia.
Qual é o melhor tratamento para emetofobia?
O melhor tratamento para a emetofobia só pode ser descrito por um profissional da saúde. Contudo, posso adiantar que entre os principais estão as medicações e a terapia. Inclusive, é indicado que seja um trabalho conjunto.
Hoje após 16 anos com a fobia posso afirmar que é possível levar uma vida normal – dentro do possível. No entanto, não consigo te garantir que o transtorno tenha cura, uma vez que depois de 10 anos ele retornou para a minha vida.
O motivo? Meu filho desenvolveu emetofobia aos 6 anos e ajudá-lo não me fortaleceu. Ao contrário, foi um gatilho para mim. Atualmente, nós dois fazemos acompanhamento com psicóloga e psiquiatra e isso tem ajudado muito.
É possível viver com emetofobia?
Sim, é possível viver com emetofobia, desde que você faça um acompanhamento. Tratar o transtorno com um psiquiatra e um psicólogo vai manter as coisas equilibradas. Inclusive, dá para dizer que algumas vezes pode até parecer que você se livrou da fobia.
Então, não se assuste se alguma situação desencadeá-la. Isso é normal e faz parte do processo. No meu caso, hoje lido com o problema também visto por outro ângulo e confesso que parece até mais difícil. É sobre isso que vou falar no próximo tópico.
Como ajudar uma criança com emetofobia?
Quando eu notei que o meu filho de 6 anos tinha medo de vomitar eu não associei isso a emetofobia logo de início. Vale dizer que a psiquiatra dele também trabalha com a hipótese de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo).
Todavia, quando vivemos uma experiência por muito tempo, fica mais simples de identificá-la e com meu filho o transtorno chegou cedo e ainda pior. Em questão de semanas ele deixou de comer, tinha crises na escola e nem sentia vontade de socializar.
Por mais que eu não tivesse a intenção de medicá-lo de início, não tive outra opção a não ser procurar uma psiquiatra. Afinal, não podia deixá-lo sem comer, pois causaria estragos ainda maiores.
Hoje ele faz tratamento com a psicóloga e a psiquiatra e tem melhorado gradativamente. No entanto, mesmo com todo esse acompanhamento é necessário ter alguns cuidados no dia a dia.
Eu, por exemplo, evito falar sobre o assunto, fazer perguntas do tipo: “está se sentindo bem”? Isso porque só de tocar no tema ou sugerir que ele possa vomitar o deixa em pânico. Então, eu recomendo que você faça o mesmo.
Além de procurar ajuda profissional, redobre os cuidados em casa. A ideia é tornar a rotina da criança mais próxima do normal e mais longe da fobia.
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Se você vive com emetofobia ou conhece alguém com esse transtorno, compartilhe o conteúdo. Conte a sua experiência nos comentários, ela pode ajudar outras pessoas.